sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Uma espécie de mundo secreto

0 comentários
Não eram um casal, nem sequer sabiam bem que tipo de sentimentos sentiam um pelo outro. Falavam por metáforas, meias palavras, pequenos avanços e grandes recuos.
Nenhum deles sabia bem o que se passava, todos à volta pensavam que percebiam, mas no recanto de seu pensamento apenas eles viam a sua comunicação.
Estar com eles era como separar duas crianças, perdiam a noção do estar, do ser, do local, do comportamento e eram apenas eles próprios, num mundo só deles... Apenas queriam captar a atenção um do outro e esquecer o mundo.
Não se podia chamar de casal a uma relação tão peculiar, seria um rótulo numa amizade cheia de brincadeiras e energias carinhosas... Eram apenas "Ele" e "Ela", duas pessoas que o destino cruzou e se recusou a explicar porquê, duas pessoas que conseguiram parar o mundo quando se olhavam profundamente, duas pessoas que viviam um segredo que desconheciam...
Contudo, a relação silenciosa teria que acabar, tinham que voltar para o mundo real a tempo inteiro, e deixar de dispersar sempre que se encontravam. Com carinho ele abriu o coração, nunca referindo que aquilo tinha sido apenas um sonho dela, nem que na realidade os pequenos momentos não tinham acontecido, e abriu mão dela. 
Lá no fundo ela esperava que aquilo acontecesse, era um sonho bonito, mas tinha que acordar... Silenciosamente desejou que aquelas não fossem as palavras finais, mas algo já tinha mudado, ela tinha deixado de encontrá-lo nos seus momentos, o muro estava erguido e nem o último olhar de carinho a fez ficar à espera do mundo "deles".

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Oito meses de ACA

0 comentários
Quando entrei na ACA, queria fazer algo diferente, queria conhecer a parte dos papéis numa Associação, não queria contactar com pessoas, apenas os papéis me interessavam... Dizia que admirava muito quem trabalhava com as pessoas sem-abrigo mas que eu jamais o iria conseguir fazer... Mal sabia eu que ao final de poucos meses estaria quase a implorar ao coordenador para me aceitar no projecto.
Sem perceber fui mudando, fui adquirindo um novo pedacinho na minha identidade, já não era aquela pessoa que achava que resolvia tudo com dinheiro, que passava por alguém na rua, dava uma moeda e nem sequer para cara dessa pessoa olhava... A ideia de alguma vez perder a vida confortável que tinha aterrorizava-me de tal forma, que vê-los tornaria o meu medo real... Outros dias o medo era tão grande que as lágrimas me caíam pelo rosto, e por mais que aqueles que me rodeavam me dissessem que muitas daquelas pessoas faziam uma certa chantagem psicológica eu entravam em pânico com toda aquela situação. 
O escudo que me separava de qualquer desastre humano também foi abalado... No tempo em que trabalhei em jornalismo habituei-me a ver as pessoas como "objectos" passei por situações de extremos em que me choravam ao microfone pois tinham perdido tudo, e eu continuava ali desprovida de sentimentos, ouvia, "massacrava" a ferida com perguntas e vinha-me embora, a partir do momento em que aquilo era notícia esquecia, e nem os corpos de crianças mortas na parte detrás de uma carrinha me fizeram verter uma única lágrima, tudo aquilo estava lá longe. Eu era uma espécie de máquina, depois disso então é que nada me fazia impressão... Por isso achei que iria ser fácil não me envolver nos casos dos nossos amigos de rua, a primeira conversa foi tão fácil, tão mágica e tão inesperada que tudo me pareceu fácil. Ali sob a visão de alguém que mal conhecia, eu falava com uma desconhecida como se já falássemos todos os dias. Depois daquela experiência inesperada a vontade aumentou, e quando veio a carta verde para sair eu pensei que não era precisa muito ciência, afinal era apenas falar. Ouvi as histórias, li os versos, falei do tempo, da novela, do livro, servi chá e bolos, percebi que tinha inúmeros preconceitos... Afinal os meus amigos novos também tomavam banho!
Mas sem perceber a história deles foi ficando, e houve quem entrasse no meu coração, me fizesse ter atitudes que só tenho com grandes amigos, como enfrentar o meu terror a hospitais só para trazer um pouco mais de conforto àquela nova amiga. Comecei então a perceber as palavras de uma voluntária mais velha "há sempre os casos em que te envolves mais... Achas que não, mas vais ver! Identificamos-nos sempre mais com alguém".
Até que um dia abro o jornal, uma notícia sobre pessoas sem-abrigo, li-a... Mas ao contrário do que me acontecia anteriormente, naquele dia as lágrimas quase caíram, senti-me estranha e pela primeira vez em muito tempo as notícias atingiram-me, aquelas pessoas já não eram um "objecto noticioso" eram os meus amigos novos... aquilo não estava "lá longe"e eu sentia um misto de excitação por conhecer a pessoa da fotografia com um misto de tristeza porque não era uma boa notícia... era apenas mais uma notícia de um tipo muito comum nos últimos tempos o "vamos-ouvir-as-histórias-das-vítimas-da-crise". Irónico como no fim desta leitura o que pensava era se estas conversas de algum modo tocaram a vida da jornalista, como tocaram a minha, ou se ela as arrumou no grande arquivo de histórias já contadas...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

0 comentários
Um sorriso foi o que trouxe comigo depois daquela noite. Um sorriso... Numa cara que para muitos, pouco ou nada tinha para sorrir, mas mesmo assim sorriu-me os seus olhos brilhavam enquanto partiva comigo a sua história, uma vida cheia de altos e baixos que lhe tinha tirado quase tudo... Menos o sorriso. Falar com ele alegrava o coração, e mesmo nos versos tristes que escrevia o brilho no olhar que trazia quando os declamava tornavam-no um aquecimento à alma. Ali ele oferecia aos amigos que tinha feito nesta nova etapa da vida versos, dizia que era pouco mas sabia que vinham do coração e por isso eram especiais. Ele era uma lição para quem chora por quase nada, porque chorar é fácil, mas sorrir depois de lhe puxarem o tapete esse é o desafio.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Eu sou um Ser Humano

0 comentários
Tenho mau feitio... Sim tenho mau feitio, sou uma pessoa difícil e impossível de se discutir... Não gosto de confrontos, e quando vejo as coisas ficarem tensas mando uma piada. Sou teimosa e egocentrica, mimada e muitas vezes não sei estar calada... Sim, admito que tenho defeitos e não são poucos, mas se não os tivesse não era humana.
Já cometi muitos erros, tantos que não os posso contar, mas sei que com eles construí uma personalidade e limei certas coisas em mim... Infelizmente "Ser Burra" não foi uma delas, continuo a ser crente nas pessoas, a evitar julgá-las e nunca olhar para elas como causas perdidas, ainda que elas olhem para mim como uma!
Sim, para muitos sou uma causa perdida, curiosamente sei apenas "para muitos" não faço ideia quem são esses muitos, nem onde estão porque geralmente rodeio-me de pessoas verdadeiras. O que me leva a pensar que ou estou muito enganada em relação àqueles com quem me dou, ou então esses "muitos" acham-me tão causa perdida que nem se dão ao trabalho de me conhecerem... Ou então são frutos do imaginário de alguém.
Há uns anos fiz uma jura a mim mesma, que não me iria preocupar com esses "muitos" e na altura até tinham caras agora não têm, e sinceramente não estou muito importada. Aliás o que preocupa mesmo neste momento é que também tenho qualidades e pelos vistos andei a desperdiça-las.
Sei aquilo que sou... E sinceramente numa relação dou tudo, estou sempre disponível e evito ao máximo ser má pessoa, tento por tudo não falhar. E mesmo assim desiludo-me com as pessoas, já baixei as minhas expectativas para um simples "Obrigado", e o resultado é o mesmo.
Já me calei diversas vezes e não "lutei" pelo meu valor, porque achava que não valia a pena, "as pessoas haviam de perceber" pois bem hoje bato o pé e digo tenho qualidades e defeitos e os meus defeitos podem não ser bonitos mas se há coisa que não me podem acusar é de não ter coração! Aguento muita coisa até explodir, dantes não era assim, admito, mas para quem ainda não viu já mudei isso há uns anos e agora chego a deixar que me pisem para evitar uma discussão sem cerebro...
Isto tudo para dizer "Sim, tenho defeitos... E tu? Já te viste ao espelho?"


... Se calhar o teu defeito é não ver a verdadeira qualidade de quem te rodeia...

terça-feira, 28 de maio de 2013

O dia em que invadiste os meus sonhos

0 comentários
Era um sonho igual a tantos outros,
Não tinha cor
Apenas amigos...

Era um sonho real,
Não sabia que dormia
Apenas estava ali...

Era um sonho,
Apenas um sonho
E eu podia acordar...

Mas repentinamente tu apareceste...

O sonho deixou de ser sonho
Para ser um tanto quanto conto de fadas
Algo mágico que alegrava o coração
E sem que me apercebesse
Os teus lábios tocaram os meus...

Era real, tão real
que por um minuto tive o meu pensamento lúcido

Mas queria ficar ali naquele beijo...

Saltar, dançar, sorrir, brincar
Fazer tudo naquele beijo
Menos acordar...