domingo, 29 de novembro de 2009

Falemos de casas...


Porque este poema poderá revelar um novo projecto meu...


Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder


tão firme e silencioso como só houve

no tempo mais antigo.

Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,

sorrindo com ironia e doçura no fundo

de um alto segredo que os restitui à lama.

De doces mãos irreprimíveis.

- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,

as casas encontram seu inocente jeito de durar contra

a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.

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Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,

espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos

que não viram as torrentes infindáveis das rosas, ou as águas permanentes,

ou um sinal de eternidade espalhado nos corações

rápidos

- Que fizeram estes arquitectos destas casas,eles que vagabundearam

pelos muitos sentidos dos meses,

dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra,aqui outra,

para que se faça uma ordem, uma duração,

uma beleza contra a força divina?

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Falemos de casas como quem fala da sua alma,

entre um incêndio,

junto ao modelo das searas,

na aprendizagem da paciência de vê-las erguer

e morrer com um pouco, um pouco

de beleza.



(Herberto Helder - prefácio)

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